quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A arte do amar

A insensatez deste coração
Torna a voz da razão
Algo a beira do relento
E uma simples canção
Faz essa insensatez
Ir dançando com o vento

Este teu intenso olhar
Ao se cruzar com o meu
Faz o meu mundo sumir
Isto é um sonho
Ou talvez um conto
Onde só pensas em me seduzir

Seus braços me envolvem
E num beijo consomes
A arte do amar
Talvez sejas um bruxo
Que me hipnotiza com teu cheiro
Para todo o sempre te desejar

É algo tão inevitável
Não há como resistir, ou evitar
E não se tem como controlar
E ao cair a noite
Me afogo em teu corpo
Com o desejo de somente a ti amar

By: Widarlane Ângela

Soneto

Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada 
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti -- as noites eu velei chorando,
Por ti -- nos sonhos morrerei sorrindo!

Álvares de Azevedo

P.S.: Texto do Romantismo no Brasil

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
_ não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada
E um dia sei que estarei mudo:
_ mais nada.


Cecília Meireles
" Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com que nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humano amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?"

A.J. da Costa Pimpão

P.S.:  Texto do Classicismo em Portugal

Este inferno de amar

Este inferno de amar _ como eu amo!
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida _ e que a vida destrói _
Como é que se veio a atear,
Quando _ ai quando se há de apagar?


Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... _ foi um sonho _
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai da mim! despertar?


Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? _ Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

Almeida Garrett

P.S.: Texto do Romantismo em Portugal